quarta-feira, 18 de julho de 2007

A Volta do Machismo

Parece estranho perceber que o mundo é realmente feito em ciclos, em todos os sentidos possíveis e imagináveis. Até mesmo a vida em sociedade não passa de um ciclo, é só pegar alguns exemplos e perceber como as coisas acabam se repetindo, mesmo que demore muitos e muitos anos. No entanto, o fato da vida ser um ciclo é triste perceber como algumas épocas que jamais deveriam ser retomadas acabam aos poucos sendo inseridas novamente na nossa sociedade, às vezes de uma maneira ainda mais forte e porque não consciente.
Andava meio indignada com algumas atitudes de algumas mulheres que eu andava vendo, de alguns homens também. Era mais ou menos como perceber que as regras que valiam para os homens num relacionamento não valiam para as mulheres, mulheres que muitas vezes acabavam sendo taxadas de vagabundas e coisas do tipo. Mas o que realmente me deixava preocupada era o fato que essas mulheres nem sempre ficavam tão revoltadas como eu ficava, até aí tudo bem no calor das emoções fica realmente difícil distinguir algumas coisas.
Susto mesmo eu levei ao perceber que essas mulheres e homens não eram uma minoria, ao perceber que as pessoas ao redor ficavam revoltadas a principio mas depois ia entendendo, aceitando e porque não... aprovando.
Me disseram certa vez que isso era o natural, e que as humilhações que as mulheres sofriam era assim mesmo, e que sempre ia acontecer. Teremos que aceitar?
Se antes a mentalidade machista era imposta a toda uma sociedade, hoje é ainda muito mais perigoso porque ela está sendo incorporada pelas mulheres e aceitas por elas.
Ao descobrir tamanho absurdo que o ciclo da vida estava impondo, senti uma enorme vontade de viver sozinha, talvez a única maneira de fugir desse vai-e-volta da sociedade (que muitas é muito benéfico, como o renascimento do movimento estudantil recentemente que acredito ser uma tendência) seria viver sozinha e isolada de toda uma sociedade. Em primeiro lugar não creio que seja possível, e depois creio que seja ainda mais triste viver sozinha. Nos resta então duas saídas: primeiro é seguir o fluxo da vida e aceitar que todos os ciclos continuem, e a segunda seria tentar romper os fluxos que são maléficos para a sociedade, sem dúvida vou sempre optar pela segunda opção embora tenha a certeza que essa seja a mais sofrida, infelizmente sei que a grande maioria ficará com a primeira opção.



Kelli M. Franco

domingo, 1 de julho de 2007

As universidades e o Serra

O governador José Serra está pagando caro pela arrogância. Ele deve achar que discussão só produz perdigotos. Nem bem tomou posse puxou do bolso do colete uma Secretaria de Ensino Superior. Criou-a por decreto, sem passar pela Assembléia Legislativa. Chamou para secretário e “presidente” do Conselho de Reitores o conhecido adesista José Aristodemo Pinotti, que nunca foi grande coisa nos meios universitários. Deu a ele a missão de “ampliar as atividades de pesquisa, principalmente as operacionais”. Ninguém entendeu o que isso significa. Parece que o governo pretende direcionar a pesquisa e a formação dos estudantes para atender os interesses privados, beneficiários das pesquisas meramente administrativas, voltadas ao mercado. A obrigação primeira da escola pública é a de ajudar a construir uma sociedade mais justa. O povo a mantém não só para trabalhar para que os ricos fiquem mais ricos, mas para promover o andar de baixo. Invasão é uma forma de resistência. Os alunos não são baderneiros. Pelo contrário: sacrificam-se no frio, na chuva, no desconforto de noites mal-dormidas e mal-comidas para combater a prepotência e defender o ensino superior de qualidade. Existe a disseminação de notícias falsas pela Imprensa, visando desinformar a Opinião Pública. Dizer que um aluno da universidade pública custa mais de 42 mil reais (como o dólar está sem prestígio, agora usam a nossa moeda) por ano é uma falácia. Ninguém até hoje apresentou uma planilha que comprove. O número de professores aposentados, nos últimos dez anos, nas universidades públicas paulistas cresceu 1.390%. Nossas universidades estaduais são as únicas instituições públicas do País a arcar com o pagamento de suas aposentadorias. São ao mesmo tempo compelidas a recolher ao tesouro do Estado 11% dos salários dos seus servidores estatutários a título de contribuição previdenciária. (in Folha, 25/09/06, José Jorge Tadeu, reitor da Unicamp).Houve uma queda acentuada de professores nas três universidades em conseqüência da não reposição dos aposentados. Entretanto, esses professores que permanecem souberam se qualificar academicamente, elevando de 59% para 95% a taxa de docentes com titulação mínima de doutor. O número de cursos de graduação cresceu 58% no mesmo período. As vagas no vestibular mais que dobraram e o contingente de alunos matriculados subiu 124%.Os professores e funcionários da USP, Unesp e Unicamp há anos recebem reajustes menores do que os índices inflacionários. Nem acordos salariais sacramentados são cumpridos. O governo vetou o aumento de participação no ICMS, cujo montante sofre reduções contínuas de acordo com a economia do País. O estado faz política de subsídios em cima desse Imposto, o que diminui, mais ainda, a participação real das universidades.A Unesp ampliou suas atividades de ensino, principalmente técnico, para outras cidades como Ourinhos, Dracena. Investiu e nem sempre recebeu a contra-partida. Mas se mantém firme no propósito de democratizar o acesso ao ensino superior. A USP instalou o campus na zona Leste, em São Paulo. A Unicamp estendeu-se à Limeira. Essas três universidades são responsáveis por mais da metade da produção científica do País. Na pós-graduação houve um crescimento de 44% no número de programas. Houve uma expansão de 128% na produção de dissertações de mestrado e de doutoramento. O atendimento à saúde pública dobrou na última década nos hospitais-escola.Serra errou feio. A comunidade acadêmica dele muito esperava. Antes disso, como líder estudantil, presidente da UNE, lutou contra a Ditadura nos anos-de-chumbo e pela melhoria do ensino. Uma vez no poder, todos são iguais. A Imprensa segue batendo com argumentos destituídos de parâmetros reais. Comparações são feitas com o ensino fundamental, como se fossem as Universidades as responsáveis pela falta de vagas no primário. O Brasil é campeão mundial de gente em escolas. São 58 milhões dos 170 milhões de brasileiros matriculados em cursos formais. O problema é que a maioria é de péssima qualidade, por falta de investimentos. Aplicamos 6% do PIB contra 18% da Coréia do Sul. Por isso somos campeões mundiais, também, de analfabetos funcionais. Trinta e sete por cento das populações adultas, tidas como alfabetizadas, não conseguem ler e interpretar um texto de dois parágrafos. A culpa não é das Universidades. É fácil agredir instituições que não têm dono, nem força política. A capacidade de reação, infelizmente, está restrita a um punhado de alunos e de funcionários que ainda são chamados de “baderneiros”. Melhor chamá-los de “heróis da resistência”. O autor, Zarcillo Barbosa, é professor da Unesp/Bauru

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Uma nova consciência e juventude - escrita pelo Galdino (Teatro Mágico)

Bem do fim dos anos 1970 até o começo do século XXI era forte a decepção que os mais críticos tinham dos jovens. Estes viveram, primeiramente, uma onda muito forte que dizia: precisamos ficar milionários. "Ter" era a base para obter qualquer sentido na vida. As relações afetivas eram postas de lado e um vazio existencial veio como uma terrível ressaca.

Depois era uma apatia, um "tô nem aí" generalizado que escondia o desencanto e apagava qualquer sentimento de revolta que seria típico na juventude. O que se via eram pessoas sem base para continuar uma estrada que mal começara.

Isso se refletia nas artes, principalmente na música popular. Afinal, essa é a arte que está mais próxima dos acontecimentos sócio-culturais. É também a arte construída a partir desses jovens, pelo menos em grande parte.

Bom, isso aqui não é um tratado sobre a juventude nos últimos 28 anos. Por isso estou à vontade para falar besteiras: é apenas minha visão. E minha visão começa lá fora na luz que banha o mundo, terminando em um processamento aqui dentro, em mim.

Eu sempre achei que aquela "moçadinha" mais possibilitada, pela sorte econômica e pelo acesso à boa educação, a fazer algo pelo coletivo e, óbvio, por si próprios, estava perdida em seu mundinho egoísta e alienado. Estavam mesmo. Era pegar o diploma da faculdade pública, acesso quase exclusivo deles, e adeus "país de merda!".

Detestavam tudo que fosse brasileiro, apenas pelo fato de ser brasileiro: o cinema, a música, o folclore, etc. Mas não agiam de forma criativa em relação. Ao contrário: "americano que é demais". Eu sempre me irritava com isso e pensava: "idiotas, vocês nunca serão americanos". E isso não é algo bom nem ruim por si só. É apenas um fato. Pra esse intento não adianta ter good pronunciation.

Além do mais, eu sempre soubera que nossa cultura é riquíssima e será para sempre nosso tesouro maior. Ser brasileiro: isso é maravilhoso (por si só!).

Chegamos ao novo século: a crueldade de Bush com suas guerras mentirosas e o seu desinteresse em relação ao mundo, de fato, climaticamente enlouquecido; a idéia de valorização das culturas regionais numa aldeia global; a percepção clara de que o capitalismo é crudelíssimo e de que é preciso incluir bilhões de seres humanos às mais básicas necessidades; o fortalecimento dos novos meios de comunicação; a chegada às universidades e escritórios da primeira leva de mulheres nascidas numa sociedade que lhes garante autonomia total em relação ao homem; etc e etc.

Tudo isso, não poderia ser diferente, está construindo uma nova juventude.

Parece que não, mas é dela que quero falar.

Nós do Teatro Mágico temos a honra de estarmos próximos desses jovens que querem debater, discutir, conhecer e experimentar o mundo e a si próprios. São jovens que não se curvaram aos ditames do gosto proposto pelas rádios e tvs; pelas gravadoras e produtores culturais.

Agora eles estão ousando mais.

Não são, como afirmam muitos, viciados em internete que vivem numa realidade imaginária. Pelo contrário, são BEM MAIS QUE VIRTUAIS.

A prova é que eles estão por aí: reivindicando e exigindo seus direitos. Melhor, e essas são as virtudes reais: exigem o respeito aos direitos de todo e qualquer grupo ou indivíduo que seja desrespeitado. E estão conectados, unidos. Assim se constrói uma verdadeira democracia.

Nós, farrapos, rotos, que surgimos de forma simples das periferias do Brasil, o TM, estamos sentindo isso no apoio que recebemos desse pessoal que não dá ouvidos às infelizes referências do tipo: "neo-bicho-grilos", "neo-hippies", "geração coca-cola-zero", "eu fui ao fórum internacional"... Somos mais. Estamos além dos labels. Pra lá de qualquer rótulo. Nosso apoio a todos vocês também é verdadeiro.

Que comecem a perceber esses jovens e como estão construindo uma nova realidade. Sem os tolos arremedos "baby, I love you": aqui se recria a nossa língua e a nossa realidade a partir do uso constante do que está a nossa volta: acessam o mundo e acessam seus "ins". Não contentes com o umbigo, saem buscando "sis". Não são antiamericanos nem antibrasileiros: pró-mundo-livre!

Hoje há vários jovens reclamando por dignidade nas universidades públicas. Querem dialogar justamente com aqueles que foram os "rebeldes" em décadas atrás. O caso é que agora a única rebeldia desses senhores é jurar que a "molecada" só está de farra e logo cansa. Não importa o que eles estejam reivindicando: eles não representam nada, na opinião dos nossos mandatários e de seus asseclas na imprensa. Apenas devem tirar seus diplomas e darem o fora.

Mas esses jovens parecem diferentes.

Já notei até que muitos deles crêem num mistério novo, num novo credo e não naquilo que foi pregado pelos pais de seus pais.

Sim, são os mesmos desafios: ainda lutam contra toda sorte de tirania. Há, é verdade, os infiltrados que tentam confundir os valores ao gritarem por direitos que negam a todos os outros. Isso também já foi visto. Mas nossos jovens sabem que enquanto outros fazem decretos, xigam, batem e mentem, eles fazem canções, peitam velhos canhões, amam livremente, gritam cantigas doces, lêem poesias, proferem seus refrões, sopram bolinhas de sabão sobre os escudos da tropa de choque...

Se eu pudesse, diria que é o momento de deixar todo o comodismo. É a hora de participar do mundo à sua volta. É a hora de ter responsabilidade e valorizar sem egoísmo e mesquinharia o que deve ser, conforme seu metro, valorizado e espalhado para todos os cantos.

Vamos tomar consciência de que esse "povo" somos todos nós: neguemos fronteiras invisíveis. Vamos perceber que os espaços públicos são nossos por direito e dever: tornemos salões e praças nossas. Vamos entender que os legisladores estão aí para nós e não nós aqui para eles: domemos leis e leões.

Eu estou cansado. Não de escrever, espero que você não esteja de ler. Do que estou farto, realmente, é de ter a "verdade" sempre sendo contada pela emissora G, pelo jornal E, pelo líder religioso P... Basta: façamos a vida ser nossa vida; tomemos a história à nossa pena; guiemos o destino pelas mãos.

Ora, claro que aquela juventude dos recentes anos passados tem valores inquestionáveis. Fizeram coisas maravilhosas, inclusive na música. Mas havia uma certa tristeza, um certo torpor, uma certa falta de identidade consigo mesma que culminou em algo ultraconservador, hipócrita, egoísta e falso-moralista.

Pra quem andava sem rumo eu diria o seguinte: "bem no fim do léu surgia um beleléu". Ou seja, no fim do "dane-se" estará sempre o "me dei mal!".

Lógico, em todas as épocas da história sempre haverá os saudosistas de forma intransigente. Mas o antigo neo, aquela inquietação saudável, aquele desejo de reinventar o óbvio e torná-lo em uma verdadeira novidade, sempre aparece.

Acho que a responsabilidade de vocês, jovens do fim da primeira década do século XXI, e em especial das mulheres, é enorme. Mas creio também que finalmente um espírito contestador e valorizador do ser humano despiu-se do véu acertando teens e recriando sins.




Este não é um blog de textos copiados!! Mas esse merece!!